7 de setembro de 2004

Abrigo Amaldiçoado (Tremores)

Eu levantei meu abrigo no lugar errado! Ergui o alicerce no lugar errado!
Tudo treme por aqui: as paredes, o chão, o telhado... É como se o mundo se revoltasse com o meu abrigo fincado neste lugar...
Tudo treme! O telhado despenca sobre a mobília e me quebra tudo... A parede se racha toda! Já tem até alguns buracos por onde passa a luz do sol... A parede tem buracos! Assim é que é legal! A luz do sol passa pela parede... E a chuva passa pelo telhado...
O reboco da parede caiu todinho... Vai dar o maior trabalho limpar o chão depois...
Chão??? Que chão??? Até o chão rachou com esses tremores...
Tudo treme... E espanta os visitantes! Espanta até os que não eram meros visitantes... Aqueles que sempre paravam por aqui... Eu os acomodaria muito bem aqui, não fossem os malditos tremores... E pensar que eu construí meu abrigo pra isso: abrigar quem mais me fosse caro... Abrigar quem mais eu quisesse... E quem mais quisesse se abrigar aqui... Mas esses tremores...
Que tremores são esses? Que temor é esse? Por que não posso me fixar aqui? Afinal, o que foi que eu fiz de errado??? Por que toda essa revolta? Merda!
São anos vivendo assim... Nunca abandonei meu abrigo... Ele nunca demonstrou muita firmeza... Mas, a cada tremor em que me encontro dentro dele, procuro me salvar da maneira que posso! Me salvar para poder consertar o que sobrar... É assim que vivo! São anos vivendo assim... E os tremores parecem aumentar... É como se quisessem testar meus limites! É como se quisessem ver até onde eu agüento! É como se fosse só por pirraça - provocada pela minha pirraça em não sair daqui!
São anos vivendo assim... E os tremores aumentam a cada ano... Dá até vontade de sair daqui, abandonar este abrigo amaldiçoado! Mas são tantos anos vivendo assim... Dá até desânimo de sair daqui... Não sei pra onde vou depois... Acho que é por isso que, todas as vezes que fugi pra me salvar, eu voltei pra reconstruir isso daqui...

Nada mais vai me ferir.
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei.
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais,
Como sei que tens também.