31 de outubro de 2005

Se joga

Se joga!
Se lança no abismo!
Esse abismo que há
Entre o que te dizem
e o que querem te dizer...
Entre o que você aceita
e o que você quer...
Entre o que você é
e o que você pode ser
Ou não ser...
(Eis a questão...)
Se joga!
Sai da margem
Mergulha de cabeça
nesse rio...
Esse rio
de gente ativa
que desemboca num mar
de possibilidades,
que se dispersa no horizonte...
Siga o fluxo,
ou vá contra a corrente,
só pra exercitar...
Se joga!
Se projete aos céus!
Para o alto
e avante!
Ao infinito
e além!
Faça uso de suas asas
e voe solto
Se lance nas alturas
das alturas
ao chão,
às pedras
da mesmice
da outra extremidade dos grilhões,
imóveis, paradas.
Se joga!
Põe fogo no circo!
Faça a alegria do palhaço!
Chuta o balde,
o pau da barraca!
Mande tudo às favas!
Se tiver vontade, grite!
Transmita a mensagem!
Mande-a
com tudo o mais
pelos ares!
Se joga!
Kamikaze contra porta-aviões
Bomba atômica contra nações
Tempestades, tufões,
ciclones, furacões
Destruições
Revoluções
em prol das evoluções
Se joga!
Mande tudo para o Espaço!
Foguetes,
robozinhos,
cobaias,
astronautas...
Ricaços também podem!
(Já que tão pagando...)
Astronauta, sai da nave
E.T., larga o telefone, sai de casa
Ganhem o Espaço
Não temam os buracos-negros
Ganhem as estrelas!
Se joga!
Lança mão dos céus, anjo!
Larga do que te convém
Liberta-te do que te aprisiona
Livra-te das tuas asas
Cai pra cá!
Se joga!
O que há além do horizonte?
Não saberá
se não for até lá
pra ver
Ganhe o horizonte
Se perca
Ganhe outro horizonte
Nova perspectiva
Voa,
pula,
mergulha,
busca
viver!
Se joga!

23 de outubro de 2005

Marina ( ou Costureira )

É flecha, é flecha e não agulha
o que ela usa no trabalho,
a nova Aracne do amor, aquela por quem suspiro!
Porque, enquanto ela enfeita e trabalha aquele tecido,
meu coração com mil pontas sofre, sangra e grita ferido.
Coitado! E aquele vago
fio sangüíneo que a mão da minha amada tira,
corta, emenda, puxa, torce e gira
é o fio da minha vida.

17 de outubro de 2005

Quero ser Arte

Música?
Bem que eu gostaria de ser música...
Ou pintura,
ou escultura,
ou um filme,
ou uma peça de teatro...
Queria ser Arte!
Queria ser artifício
para encher,
preencher qualquer lacuna
de qualquer ser...
Ao simples contato,
penetrando por algum dos cinco sentidos...
Até tomar conta de todo o ser...
Hoje,
tento me fazer poesia...
E me desfaço em poesia...
Tento encher as almas dos outros
enquanto a minha se esvazia...
Me esvazio,
me espalho,
me distribuo
entre os espaços
vazios...
E deixo de existir!
Deixo de ser eu
para me tornar
um pouco de cada um
que me absorve...
Será isso
Arte?
Será isso
a tão aclamada
Arte?
Não sei...
Só sei que sou algo
que nunca sonhei em ser...
E quero ser algo
que eu antes nunca quis...
Quero ser Arte!

8 de outubro de 2005

Sem Título nº 193

Anjos caem aos punhados
Como folhas de uma árvore
Ou folhas de papel jogadas de uma janela
Desilusões, ódio e fraqueza...

Folhas cheias de esperança
Desesperançadas
Lançadas, voando sem asas
Nesse vento que passa

5 de outubro de 2005

Rio disso tudo

Rio disso tudo
à margem
dos acontecimentos...
De que lado você está?
Na margem direita ou esquerda?


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Quem não prefere
viver à margem
desse rio
de gente
que não é capaz de entender
nada?


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Vem curtir um rafting!
Vem descer no ritmo da correnteza, se deixar levar...
Mas se segura, que é pra não cair no rio!
Isso é que é vida! Quem é que gosta de ficar parado feito bobo, à margem? Não entendo essa gente...

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Gosto de desafios!
Gosto de nadar contra a correnteza,
que é pra ver quem pode mais...
Se eu não puder com ela, vou pra margem...
Só pra recuperar o fôlego...

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Meu negócio é pescar! Nada melhor pra relaxar do estresse do dia-a-dia do que pescar...
Sempre vou eu com minha vara, pra margem do rio... Coloco a isca no anzol... Jogo a bendita no rio... E ali fico! Fico ali por hoooooooooras! Até pescar algum...
Gosto demais disso: ficar sentado à margem, relaxar, contemplando os peixes no rio... Esperando o primeiro idiota a morder a minha isca! Sim, idiota! Me divirto em ver como são idiotas, os peixes no rio...Tem sempre um que morde a isca, que cai na armadilha...
Peixe morre pela boca!

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Há um rio cruzando a cidade. E, nas margens desse rio, em vários pontos, haviam abrigos. Abrigos de natureza precária, abrigando pessoas de vida mais precária ainda. Ficavam ali, pois não tinha outro lugar mais fácil.
Vivam bem até, por ali, aquela gente... O problema maior era quando chovia forte... Em dias de chuva muito intensa, o rio transbordava, e praticamente destruia vários desses abrigos. Alguns resistiam, e seus moradores logo tratavam de limpar a sujeira proveniente do rio poluído que transordara e contabilizar os pertences perdidos.
Num belo dia, porém, a prefeitura daquela cidade decide retirar aquela gente da margem do rio. Então, eles foram convidados a montarem seus assentamentos em uma região um tanto mais afastada. Convidados, sim, sob ameaça de ficarem sem abrigo. Aqueles seriam derrubados, pois estavam em propriedade pública. Aproveitando o gancho dos problemas enfrentados por eles com as chuvas intensas, alegavam que eles estariam mais seguros ali.
Feito isso, a prefeitura tratou de mandar plantar belas flores e grama verde importada nas margens do rio, já desocupadas. Quem passava pelas marginais nem acreditava. Agora era uma coisa agradável de se olhar, a margem do rio. Chamava a atenção tanta beleza. Toda essa beleza só durou até a próxima chuva intensa. O rio transbordou novamente e a sujeira proveniente da poluição cobriu toda a margem.
Deram muita atenção aos que estavam à margem, por um instante. Mas o rio continua poluído. E aquelas pessoas continuam à margem.

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À margem
disso
tudo
eu
rio