24 de junho de 2004

Bullying, "educação-à-moda-antiga" e o progresso

Evolução? Progresso?
Dia desses, eu li um artigo em um folheto, que falava sobre bullying - é esse o nome que dão para aquelas manias que crianças têm de colocar apelidos num fulano, empurrar beltrano "sem-querer", "gelar" sicrano... Dizia que o fulano, sicrano ou beltrano que passa por essas situações passa a se isolar socialmente. Também dizia que, em casos mais graves, poderia levar o pequeno indivíduo a cometer suicídio.
Além dessas informações que eu já sabia, li algo sobre o qual não tinha conhecimento: na Inglaterra, isso é visto como agressão moral, e existe um serviço de denúncias para tratar disso, e que há uma ONG aqui no Brasil que quer criar um serviço desses.
Achei interessante saber disso! As pobres crianças indefesas de hoje têm um alento a mais, um respaldo contra essas humilhações! Os povos estão evoluindo, progredindo... Na minha infância, não tinha dessas coisas... Isso não era tratado como um problema. Sempre fui instruído a encarar essas "zuêras" como uma coisa normal...
Sempre tive lá minhas dúvidas sobre o fato de isso ser normal... Mas agora, penso diferente! Não que minhas dúvidas de outrora tenham se tornado certeza, mas tenho dúvidas de que isso tudo não seja normal - ou mesmo, um problema...
Quer saber porquê? Acompanhe...
Estávamos eu e uma amiga minha, certa vez - isso faz tempo... - a conversar sobre qualquer bobagem, quando ela deu atenção para um papel fixado à frente dela. Era o anúncio de uma palestra, se eu não me engano. Só me lembro do que seria o tema: "Palmadas educativas no lacaio". O que foi merecedor de um comentário:
- Que absurdo! - teria dito essa amiga minha.
- Por quê? - eu me limitaria a perguntar.
Agora, o que seria interessante dessa conversa, que seria a eventual resposta que ela me deu, eu não me lembro muito bem... Só sei que me fizeram pensar... Me fizeram pensar na minha infância...
Meu pai sempre foi um tanto severo... Por conta disso, passei boa parte da minha infância apanhando. Isso porque eu nunca fui um menino muito bagunceiro, ou rebelde, ou algo que o valha! Levei muita surra porque não curtia comer de tudo, ou porque cheguei 5 minutos atrasado do combinado da casa de algum colega meu, ou porque apareceu 1 falta no meu boletim... E porque me julgava superior aos outros!
Peraê! Já explico...
Isso aconteceu quando comecei a estudar o 1º dos 8 anos do Ensino Fundamental. Depois de passar os anos anteriores numa creche, onde uma criança sempre tem alguma opção de recreação e distração... Agora, eu me via diante de um caderno cheio de linhas retas, uma carteira surrada, uma lousa com algumas coisas escritas... E nem um desenho pra eu colorir?!?! Fiquei indignado! E manifestei meu inconformismo!
A professora viu que eu estava tendo dificuldades de acompanhar as aulas, que eu me mostrava desinteressado e revoltado só pelo simples fato de eu não ter, nem ao menos, um desenho pra colorir, em meio àquele ambiente maçante. E mandou contatar o responsável. E, assim que pôde, meu pai foi trocar uma idéia com o povo da escola. E eu, junto.
Expuseram todo o problema a ele. Disseram que a professora, por conta disso, se via tendo que dar uma "atenção diferenciada" pro garoto-problema aqui. Então, meu pai, já um tanto impaciente, me disse:
- Atenção diferenciada?!?!? Por acaso, você é diferente dos outros, é?!?!?!?
Ih, é verdade! Eu tinha esquecido que tinha um monte de gente nas outras carteiras surradas da sala! Mas eles não pareciam se sentir da mesma forma que eu... Sendo assim...
- Sou! - foi a resposta que dei ao meu pai.
Criança é um bicho muito burro, não é mesmo? São inocentes demais, falam o que lhes vêm à cabeça... E vocês acham que meu pai pensou nisso? Pra ele, eu tinha um complexo de superioridade.
Por conta dessa resposta, passei a maior parte da minha infância apanhando. Mesmo quando eu não tinha feito nada de errado, mesmo segundo o julgamento da minha mãe - que tem um senso de justiça impressionante! Se ele não tinha motivos pra me punir, logo vinha esse à cabeça dele!
Sim, ele acabou com o meu "complexo de superioridade". Pior: passei a ter um terrível complexo de inferioridade que me assolou por durante quase toda a minha vida. Mas o pior mesmo é reconhecer que isso tudo teve um lado bom...
Isso fez com que eu deixasse de ser um menino "desbocado", que falava as coisas sem pensar, e aprendesse a medir meus atos. Fez com que eu deixasse de querer demais pra ser mais humilde. Isso me trouxe humildade! Por mais que eu não quisesse admitir, eu aprendi o significado de valores como respeito e humildade na base da porrada!
E o que é que a sacal história da minha infância tem a ver com aquela idéia de bullying citada lááááááááááááá no começo? E - principalmente - por que eu tô falando de tudo isso? Pois eu lhes digo...
Sinto que pode não ser boa toda essa "brandura" com a qual se trata a criançada de hoje em dia. E não deve ser mesmo! Compare os adolescentes de hoje em dia com os de 5 a 10 anos atrás...
- Compare direito, porra!!! Como não vê diferença???
Analise a proporção de adolescentes "descabeçados" nos dias de hoje e nas épocas que eu citei! É maior, não é? Pelo menos, eu quse não conheço um adolescente mais comportado, mais reservado, mais ajuizado, mais "cabeça" atualmente... E conheci muita gente da minha época que tinha mais cabeça... Sinto que isso se deve ao fato de essa molecadinha não ter levado as porradas que eu levei! Talvez os pais dessa geração não queiram repetir o mesmo método que - provavelmente - seus antecessores usavam... Que os meus usavam em mim... Que os antecessores dos meus pais usavam neles...
É como se, pra essa molecada, as coisas fossem mais fáceis do que foram pra mim, quando moleque...
Evolução? Progresso? Não sei... Se pensarmos que a idéia de progresso que predomina nesse mundo nosso é de que as coisas serão mais rápidas, mais fáceis... Sinceramente, acho que ao facilitar as coisas a gente consegue provocar um fenômeno interessante: as gerações futuras estão é regredindo, isso sim...


É verdade que estou sendo um tanto ignorante... Mas é um ponto-de-vista singular, apenas! E vou deixar assim! Quem discordar, que fale, porra!!!

- Ah, discórdia... Como eu gosto disso!


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