3 de fevereiro de 2006

As construções do mundo

As mesmas peças do quebra-cabeça podem se encaixar de outra forma.

Gosto de ver
as construções do mundo
de cada um dos seres humanos
Todos constroem
porque querem
ou porque acham que precisam
São interessantes
as construções do mundo
Algumas levam madeira
e barro
Muitas são pilhas de tijolos
pilhadas de algum lugar
ou compradas com o sal
do suor do rosto do trabalhador
Servente de pedreiro
trabalhando pruma empreiteira
Só usa concreto
pra construir um mundo que
pra ele
ainda é abstrato
de tão real que é
Em casa de ferreiro, o espeto é de pau
porque o ferreiro não é dono do ferro
Outras construções
levam placas de metal
- com certeza, pilhadas de algum lugar -,
pedaços de papelão,
sobras de telhas
Uns se viram com uma coberta velha
Eles constroem sua vida,
seu mundo,
com a forma
que aprenderam a usar
Afinal, cada um constrói sua vida
Cada um constrói sua vida,
seu mundo,
da forma
que ousar

É nisso que eu invejo as crianças
Elas constroem seus castelos de areia
sem se preocupar com o custo dela,
nem da pedra, do cimento e do cal
Elas usam blocos de montar,
massa de modelar
e constroem qualquer coisa
que se possa imaginar
Elas pintam à mão
na folha de sulfite,
na cartolina,
na parede
Não há moldura que comporte
toda essa arte
Usam argila
e a moldam como querem
Sopram bolhas de sabão
que assumem a forma
que mais lhe agradarem
Elas podem, até mesmo,
moldar as nuvens no céu
e caminhar sobre elas
Na visão das crianças
as construções do mundo
sempre podiam ser mais belas
se feitas por elas
Pois as constroem com alegria
São ousadas
São livres das formas
dos homens adultos
e constroem o que bem quiserem
São artistas
É nisso que invejo as crianças
É nisso que invejo os artistas
São crianças

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