Este é mais um dos escritos de meu colaborador Fallen Angel!
I
Mil bocas em um ano
Exclusividade do ser humano
Não pelo beijo
Porque gatos, cachorros e ratos beijam.
Necessidade de experiências?
Pra escolher qual a pessoa certa?
Provando todas as maçãs da feira para saber
qual é a estragada?
Enfiando uma agulha no olho para sentir
o que acontece?
Socando todos os vidros para ver
qual quebra?
Depois de saber, todos os processos param.
Estagnação não seria a palavra.
Apagamento e esquecimento seriam adequados.
A pessoa
freqüentemente torna-se apenas um número.
Um, dois, três, cem, quinhentos, mil.
Por que o número mil?
Sim, a pergunta é esta.
Por que mil?
Trocar lições, sorrisos, experiências, conversas
reclamações, idéias, o conteúdo de uma pessoa
por um só beijo daquela boca...
Vale a pena?
Na cultura do descartável e do fútil,
a lição benfeitora dá lugar ao inútil
e deixa a aparência comandar.
Aparências que enganam, mudam e não dizem nada.
Mil experiências de uma boca trocadas por
mil bocas mudas... Troca justa?
Conteúdo trocado por aparência.
Qual a vantagem? Aproveitar a vida?
Depende de como cada um a encara.
Cara a cara ou de olhos sempre fechados?
Trocando sentimentos por sentidos?
Falando mentiras durante meia hora por uma boca?
Falando mal de quem não pensa assim?
Olhar para dentro é sempre mais difícil
do que olhar para os lados e criticar
ou fechar os olhos para a vida e apenas
pensar em beijar.
II
Ouve-se dizer que a religião abre portas.
Cada religião diz que ela própria é a melhor.
Só ela é verdadeira, só ela salva.
Isso é possível?
O papa, por exemplo, prega a paz
entre os homens.
Fala para acabarem com a fome.
Enquanto a capa dos livros do Vaticano é
de ouro maciço. Ou prata maciça.
E as roupas bordadas a ouro.
E milhões morrendo de fome.
E mulheres comprando água mineral para
cachorros.
E milhões morrendo de sede.
Roupas para cachorros.
E milhões morrendo de frio.
Na porta dos prédios que abrigam
essas mulheres donas desses cachorros.
III
Um ponto comum?
Uma ligação entre I e II?
A resposta é I + II.
Os dias de hoje.
Viver não é fechar os olhos para o mundo
e beijar.
Filosofia inútil? Ruim? Sem sentido?
Pode ser.
É útil ter livros com capas de ouro?
É bom cuidar melhor de cachorros do que
de pessoas?
O mundo tem sentido?
Pessoas sendo valorizadas pelo que têm
ou pelo que parecem ser...
E não pelo que são?
O mundo é são?
Filosofia confusa. Vida confusa.
Futilidade é fácil. Não necessita de pensamento
nem reflexão.
Por isso muitos abandonaram a parte interna
e usam apenas a externa.
Afinal, parece que é só ela que importa
hoje em dia.
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